Discovery, um ícone Land Rover

Discovery, um ícone Land Rover

Quando a Land Rover decidiu atirar o Range Rover para o segmento de luxo, deixou vazio o espaço para um todo-o-terreno que pudesse ser utilizado de salto alto ou galochas, versátil e com espaço interior e capacidade de ir mais além.
O mercado dos veículos todo-o-terreno na época era muito competitivo e os produtos japoneses aterravam no Velho Continente em todas as formas e feitios. Naturalmente que o espaço deixado vago pelo Range Rover foi ocupado, pressionando a marca britânica para lançar um modelo que desse luta aos nipónicos. Nascia em 1989 um dos modelos que ficará na história da marca criada de Solihull: o Land Rover Discovery!

Maior que um Range Rover, imparável fora de estrada
O Discovery – nome feliz, diga-se – estava, naturalmente, abaixo do Range Rover. Porém era mais comprido e mais alto, oferecia mais espaço a partir dos bancos do condutor e passageiro e tinha capacidade para levar sete pessoas, embora essa fosse uma opção.
Foi apresentado no Salão de Frankfurt de 1999 e foi desenvolvido através do código interno “Project Jay”. A primeira geração destaca o tejadilho sobrelevado com as famosas escotilhas por cima dos vidros laterais. A traseira do modelo era mais comprida por duas razões: ter mais bagageira e albergar dois bancos extra para uma ocupação de sete pessoas.
Foi por isso que a roda suplente teve de passar para o portão traseiro (de abertura lateral +ara melhor acesso de quem viajava nos bancos suplentes), o tejadilho foi elevado para haver espaço para a cabeça desses passageiros e as janelas tipo “Safari” surgiram para ajudar na luminosidade.
Tudo isto mais as cavas das rodas musculadas, embora preenchidas com pneus pequenos e estreitos, deram ao Discovery um estilo característico. Por outro lado, tendo como base o Range Rover, foi lançado com apenas três portas, motores mais económicos e baratos e com mais algumas sinergias com outros modelos da marca. O preço era, assim, abaixo do Range Rover.
Destaques, ainda, para o facto de ter sido o primeiro Land Rover a ser posicionado como veículo familiar com uma bagageira enorme e o apurado sistema de tração integral da marca. A primeira geração do Discovery foi a única a só estar disponível com três portas. Curiosidade: quando foi lançado, a Land Rover fez 64 carros de demonstração para a empresa com a matrícula “GXXX WAC”. Os “G-WAC” como ficaram conhecidos, são hoje uma peça de colação que muda de mãos a preços incríveis.
As preocupações familiares a que os modelos japoneses respondiam levaram a Land Rover a lançar o Discovery com cinco portas. Mantinha os cinco lugares e os dois bancos extra na bagageira, mas oferecia mais versatilidade. Já o interior, comissionado à Conran Design Group acabou por ser galardoado com o “British Design Award” de 1989. E tudo isto feito com peças de modelos do Rover Group como o Range Rover, Austin Maestro e Montego e Rover 800. Até algumas partes da carroçaria eram provenientes do Range Rover. Detalhe: os puxadores das portas eram do Morris Marina, os faróis de um comercial Rover e os farolins traseiros da carrinha Austin Maestro. Estes ostentaram o símbolo da Austin Rover até ao fim da produção da primeira geração do Discovery em 1998. A Austin Rover tinha deixado de existir em 1988…
O motor 2.0 MPi era oferecido lado a lado com o motor V8 da Rover com 3.5 litros e o 200 TDI de 2.5 litros. O bloco a gasolina servia mercados como Itália e Reino Unido (frotas), mas foi um fiasco devido à falta de potência e aos consumos exagerados.

Evolução sensível antes da segunda geração
Quando em 1992 a Land Rover apresentou uma profunda evolução do Discovery pensava-se que fosse a segunda geração. Afinal era uma evolução que mudou muita coisa. Um interior com mais qualidade, passou a ser oferecida uma caixa automática e o pacote SE oferecia muito equipamento antes colocado na lista de opcionais.
Os motores passaram a ser o V8 de 3.9 litros da Rover e o bloco 2,5 turbo diesel 300 TDI. Mais modernos, sofisticados e com melhor comportamento ambiental. A caixa de velocidades era nova e, no lado estético, surgiram faróis maiores e um conjunto de luzes no para choques. Mudaram a cablagem para acabar com os problemas sentidos no primeiro modelo e o interior foi totalmente revisto.

Discovery Série II com ACE
Finalmente em 1998 surgiu o Discovery II, lançado quando a marca britânica já estava dentro do Grupo BMW desde 1994. A Land Rover enfatizou o facto de o modelo ter 720 diferenças. Embora fosse uma clara evolução do Série I, a segunda geração não tinha um único painel igual. A traseira foi prolongada para haver mais espaço nos dois bancos extra (e, agora, virados para a frente), o que acabou por prejudicar o seu desempenho em todo-o-terreno.
Este foi o último modelo a estar assente naquilo que eram as fundações do Range Rover dos anos 70. Ou seja, chassis de longarinas e carroçaria aparafusada, com uma curta distância entre eixos (2540 mm) face aos 4,7 metros de comprimento.
Foi nesta geração que surgiu o motor TD5 que, erradamente, é ligado à BMW. Era um motor desenvolvido a partir dos blocos dos veículos de passageiros da Rover e feito “em casa” em Solihull. O motor V8 passou a ser o P38 Thor com 4.0 litros. Mais tarde seria substituído por um V8 de 4.6 litros.
Mas o maior destaque desta Série II do Discovery era o ACE (Active Cornering Enhancement). Um sistema de barras estabilizadoras com controlo eletrónico que anulava o rolamento em curva. Um par de acelerómetros é utilizado para detetar o ângulo de inclinação da carroçaria e para dar instruções ao computador ACE para contrariar estes movimentos, aplicando pressão nas barras de torção do veículo através de atuadores controlados hidraulicamente. O sistema ACE pode contrariar até 1 g de aceleração lateral em menos de um décimo de segundo, ajudando assim o veículo a tornar-se mais estável e reativo durante as curvas difíceis.
A Land Rover foi fazendo renovações ao Discovery II até á chegada da terceira geração, identificados pela mudança do posicionamento das luzes de travão, dos faróis à imagem do Freelander e novos puxadores das portas.

Discovery III com inovações
Foi em 2004 que a Land Rover lançou a terceira geração do Discovery, quatro anos depois da BMW ter vendido a marca à Ford. Destacava um método de construção inovador denominado IBF (Integrated Body Frame). O compartimento do motor e o habitáculo eram um monobloco que, depois, era acoplado a uma estrutura básica de longarinas.
Desta forma, dizia a Land Rover, conseguia-se o melhor de dois mundos: a segurança e rigidez do monobloco e a versatilidade no todo-o-terreno. O carro ficou muito pesado e isso acabou por comprometer o desempenho.
Acrescentando força, rigidez e adaptabilidade, o Discovery 3 tinha suspensões independentes nas quatro rodas e com amortecimento pneumático. Para ajudar no fora de estrada, a Land Rover desenvolveu o “cross linked” que imitava a ação de um eixo rígido quando necessário, mas quando o chassis toca no chão, os sensores elevam o carro mais um centímetro para ultrapassar o obstáculo.
Já os motores vinham todos da Jaguar: V6 turbodiesel com 2.7 litros (TdV6 desenvolvido pela Ford e pela PSA) e um V8 de 4.4 litros. As caixas de velocidades eram novas podendo ser manual ou automática, mas sempre com seis relações.
O Discovery 3 estava equipado com vários sistemas eletrónicos de controlo da tração. O Controlo de Descida de Declives (HDC) evitava que o veículo “fugisse” ao descer declives acentuados e o Controlo Eletrónico de Tração às 4 Rodas (4ETC) evitava a patinagem das rodas. O DSC controlava a condução e a travagem e também surgiu o sistema “Terrain Response”.
Depois, surgiu o Discovery 4, que não era mais que uma evolução da terceira geração. Ainda assim, com mudanças no interior (cada vez mais luxo) e no estilo, adotando formas mais arredondadas e suaves à imagem do Range Rover.
Mecanicamente as alterações foram maiores, resolvendo problemas de fiabilidade. Os novos motores da Jaguar destacavam-se cm o TDV6 de nova geração com 3.0 litros. A caixa de velocidades foi melhorada e a eletrónica invadiu o Discovery.

Discovery de terceira geração
O modelo que hoje está em comercialização foi lançado em 2016. Tem como base uma plataforma partilhada com o Range Rover e pouco ou nada tem a ver com os modelos anteriores. Aliás, do Discovery ficou, apenas, o nome.
Estilo mais moderno, embora menos prático e consensual, muito mais tecnologia e construção monobloco em alumínio. Está mais elegante, tem uma aerodinâmica refinada e oferece motores V6 a gasolina e gasóleo e, até, versões com apenas duas rodas motrizes. Todos equipados com caixa automática de oito velocidades. Uma miríade de opções afasta ainda mais o Discovery do modelo original, colocando-o num patamar Premium onde o sistema Terrajn Repsonse 2 permite ao condutor uma paz de espírito enorme quando enfrenta qualquer tipo de terreno. Em 2021, a Land Rover lançou a última atualização do modelo com interior renovado e mais tecnologia, particularmente, no que toca à conectividade. Chegaram, também, os motores híbridos.

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