Dia de Lama 2015
As tradições acontecem quando algo se vai enraizando com a prática e o tempo, por isso fazendo jus a uma tradição ainda curta que entra agora no seu terceiro ano, o CLRP iniciou o ano com um “Dia de Lama”, e que dia!! Houve de tudo um pouco: chuva, sol, água, rios a transbordar, outeiros, serras, subidas de corta-fogos, descidas de cortar a respiração, estradões, algum alcatrão, e claro, muita, muita lama, num percurso com cerca de 60 quilómetros, repartidos por várias zonas da região de Torres Vedras (como já vai sendo tradição)…
O último dia de Janeiro amanheceu cinzento, com uma ligeira bruma e com o solo empapado de água, resultado da chuva que tinha caído copiosamente na noite anterior, para satisfação geral de todos quantos se apresentaram à partida (ainda) limpos e lavados.
Foi sob esta capa que vinte e oito Land Rovers e mais de cinquenta pessoas se dirigiram às antigas Termas dos Cucos, perto de Torres Vedras, para dar início a mais um banho terapêutico, ou não fossem reconhecidos os efeitos benéficos que este tipo de “tratamento” tem para o corpo e para a mente.
De “roadbook” na mão, Series, Defenders, Discoveries e Range Rovers e ainda um Lightweight puseram-se a caminho, apostados em mudarem a cor da pintura para castanho, pelo menos temporariamente.
À partida, brindada com ofertas da Peças Land Rover que patrocinou o passeio, rapidamente se seguiu a primeira secção que consistia em atravessar o rio Sizandro a vau, que despejava com violência os restos da chuva nocturna. Com água pelo capôt, os mais afoitos aventuraram-se e atravessaram o rio para a outra banda, mesmo com a corrente a desviá-los largamente da trajectória original.
Pequenos grupos já se formavam e acabaram por chegar sem grandes incidentes à zona do Moinho do Gaio, onde a subida toda ela empapada de água e com muita erva à mistura acabou por fazer claudicar muitos daqueles que achavam que era só “acelerar e subir”. Assim não foi e muitos foram os que se viram forçados a seguir pela alternativa, que depressa se transformou ela própria num obstáculo duro de ultrapassar, pois mais parecia que os Land Rover tinham calçado patins e que patinavam alegremente num qualquer lago de gelo.
Uma boa parte da manhã foi passada nestas andanças, das quais resultaram logo uns quantos furos e deslocamentos de pneus.
Umas quantas subidas e descidas depois, era chegada a hora do almoço estrategicamente marcado para o Castro do Zambujal, e que à boa maneira do Oeste, foi farto mesmo para um “picnic” seguido como já é hábito (outra vez a tal tradição…) do habitual café expresso fornecido pelo Clube.
Já refeitos das façanhas matinais, os participantes tiveram que seguir directamente para o lugar de Montengrão, uma vez que tinha sido anulada a secção mais radical do dia, pois que o rio levava demasiada água e a corrente era tão forte que não estavam reunidas as mínimas condições de segurança.
Mas a alternativa não defraudou, com a organização a brindar os participantes com uma difícil descida seguindo depois a caravana para Fernandinho e Freixofeira, por caminhos municipais que bordejavam hortas e pomares, que de tão utilizados por tractores agrícolas contribuíram ainda mais para acentuar o tom castanho das viaturas.
Num percurso mais deslizante que rolante, os Land Rovers foram chegando à base da Serra do Socorro e aí foi um “ai Jesus”, com os corta-fogos da Serra a insistirem em não querer ajudar e a manterem que a subida não seria possível. Só a custo de guinchos, roldanas e muita fé foi possível aos Land Rover, subirem um a um, os cerca de três quilómetros de um corta-fogo que mais parecia uma pista de gelo.
Depois de chegados ao topo havia que descer… mas com muito cuidado. Redutoras engrenadas e toca a descer com jeitinho os caminhos ladeados de eucaliptos até à base, sempre com muita atenção não fosse um eucalipto assustar-se e começar a “atravessar-se” à frente de um qualquer Land Rover, mas tudo acabou por correr bem, diga-se.
Chegados ao fundo da descida havia que subir novamente, desta vez ao Furadouro e rapidamente porque o sol se punha, embora nestas coisas não possa haver pressas, pois a subida era difícil, a lama imensa e as dificuldades incontáveis. Pela encosta acima os intrépidos Land Rovers (e já agora os seus condutores), foram subindo com mais ou menos dificuldades, mais ou menos guincho, mais ou menos furo.
Chegados ao topo já noite escura, os muitos participantes puderam apreciar ainda uma bela vista nocturna sobre a cidade de Torres Vedras. Última descida cumprida e chegada ao conhecido restaurante “Páteo do Faustino”, onde o repasto (e o descanso mais que merecido) os aguardava.
Depois do jantar e do convívio retemperador houve ainda tempo para um sorteio de acessórios oferta da Peças Land Rover que apoiou o passeio, e que coroou de êxito um dia excelente com tudo o que faz este Clube: amizade, camaradagem, entreajuda, e muito espírito Land Rover.
Decididamente a repetir para se cimentar a tal tradição… mas como diz o ditado que “no melhor pano cai a nódoa”, já no regresso a casa ainda houve que mudar um pneu furado, curiosamente no alcatrão.
Dispensam-se as estradas nacionais pavimentadas. Venham antes os trilhos e os estradões enlameados…
Agora é tempo de lavar os Land Rovers e de ir esperando por um novo banho de lama terapêutico, lá para Janeiro do ano que vem.