Expedição Vale do Côa 2015
Com a primavera já adiantada, cerca de setenta aventureiros dos quatro cantos do país rumaram até ao Sabugal para a “Expedição Vale do Côa”, que tinha como principal objectivo a descoberta da região raiana seguindo tão proximamente quanto possível o trajecto deste grande rio Português, que tem a particularidade quase única de correr de Sul para Norte, desde a nascente na aldeia dos Fóios até à foz no rio Douro em Vila Nova de Foz Côa.
Este evento marcava igualmente o renovar da organização por parte do Clube, de passeios de longa distância, ao jeito das expedições que habitualmente associamos a longínquas paragens além-fronteiras, daí que o desafio se afigurasse bastante ambicioso para organizadores e participantes.
As chamadas terras de Riba-Côa representam um vasto território do nosso interior desde que em 1297, os reis D. Dinis e D. Fernando IV celebraram o Tratado de Alcanizes, e formam aquela que é a linha estável de fronteira mais antiga de toda a Europa. Foi precisamente por estar fora dos principais polos turísticos do nosso país, que decidimos partir à descoberta desta região, para muitos desconhecida, mas possuidora de inúmeras tradições e belezas históricas e paisagísticas merecedoras de serem apreciadas de um ângulo privilegiado que só o Todo-o-Terreno permite.
Depois da recepção aos aventureiros participantes e do jantar de boas-vindas, saímos para um passeio noturno pelo centro histórico do Sabugal com direito a visita guiada ao bonito museu local, para depois recuarmos no tempo através duma animada encenação de alguns acontecimentos históricos ali ocorridos em tempos idos. Reza a lenda que o famoso “milagre das rosas” da Rainha Santa Isabel terá ocorrido numa daquelas calçadas, quando distribuía pão pelos pobres da terra…
No primeiro dia da expedição, ainda a manhã mal se tinha levantado, já a caravana de participantes saía do Sabugal para a primeira etapa desta aventura com destino à nascente do Côa. Ali, o que começava por ser apenas um pequeno fio de água límpida a brotar da rocha, haveria de se tornar na nossa “bússola” ao longo de mais de 200 quilómetros de viagem por terras beirãs. Feita a obrigatória fotografia de conjunto para marcar o feito, era tempo de partir à descoberta do património histórico e cultural da região percorrendo lugares de grande beleza natural, como várias passagens a vau por trilhos intermináveis que ligam algumas das localidades e praças-fortes conquistadas pelo centenário Tratado, que hoje pertencem à Rede de Aldeias Históricas de Portugal.
Se a diversidade de paisagens do Vale do Côa foi uma constante ao longo do percurso, a variedade de modelos Land Rover e de lugares de origem dos participantes presentes não ficou atrás! Da longa caravana destacava-se um bravo Série 2 que fazia a sua primeira viagem depois de um profundo restauro, sempre bem escoltado por vários Defenders, Discoverys e Range Rovers de várias gerações. Neste contingente de luxo, incluía-se um novíssimo RR Sport TDV8 que além de exibir um superior conforto a bordo, demonstrou bem as suas potencialidades na ultrapassagem dos inúmeros obstáculos do percurso.
Quanto às dificuldades do trajecto, o melhor estava mesmo guardado para o fim do dia de Sábado, com a subida ao topo da Marofa por um corta-fogo que impunha respeito. Do alto dos seus 977 metros de altitude, sob os braços da estátua de Cristo Redentor ali existente, podia-se usufruir de um panorama fantástico que vai desde o planalto Duriense até à Serra da Estrela.
No dia seguinte, depois de retemperadas as forças após uma noite atribulada devido a uma dificuldade logística de última hora, tivemos ainda a oportunidade (quase) única de usufruir de uma visita guiada em Land Rover à Reserva da Faia Brava, a primeira área protegida privada em Portugal, que nos trouxe um certo “sabor” a África.
De facto, quando pensamos numa expedição a uma reserva natural, somos levados até longínquas paragens onde animais selvagens deambulam em liberdade. Desde vez porém, bastou-nos ir até próximo das escarpas do Vale do Côa para ver ao vivo alguns grifos, abutres-do-egito, cavalos garranos e outros animais num extenso habitat em estado selvagem, que há quinze anos tem vindo a ser preservado pela Associação Transumância e Natureza, a entidade gestora da reserva.
Enquanto cruzávamos um dos trilhos que atravessam a reserva em caravana, andávamos literalmente de olhos postos no ar à procura de alguns destes senhores dos céus, e nem sequer faltou um velhinho Defender 110 com aspecto expedicionário propriedade da reserva para completar o quadro com cheirinho “africano”. O tempo fazia-se curto e havia que chegar ao destino da expedição em Foz Côa, não sem antes provarmos os deliciosos doces confecionados por produtores locais, e que a Reserva comercializa no âmbito do projecto de promoção da economia da região.
De volta ao caminho, apontámos a norte, e mais concretamente ao extremo norte do Vale do Côa que é local de ocupação humana desde há milhares de anos. Hoje, esta ocupação pode ser conhecida através do magnífico Museu do Côa e do mais importante núcleo de gravuras rupestres do Paleolítico Superior a céu aberto em todo o mundo, que mereceu o estatuto de Património Cultural da Humanidade por parte da Unesco.
Finalmente chegávamos ao nosso destino e ao cenário fabuloso onde o Côa se une ao Douro, num local simbólico escolhido para terminar com “chave de ouro” esta expedição, que apesar de recheada de histórias para contar, nos deixou com vontade de voltar para descobrir novos caminhos e lugares desta bela região…