O dia da lama é terapia de grupo!
Nada como um dia da lama, pelo menos uma vez por ano. E é precisamente isso que pensam os responsáveis pelo Clube Land Rover de Portugal, que todos os anos consagram o seu primeiro passeio a uma jornada de lama. Foi este sábado e acreditem que se trata de pura terapia de grupo!
Acordar às seis da madrugada num dia de descanso não é agradável. A menos que seja para tomarmos parte num programa atractivo como este, que inaugura o calendário de actividades do Clube Land Rover de Portugal. Ainda era noite cerrada e Lisboa inteira parecia ainda dormir quando saímos da cidade, em direcção à Foz do Arelho, ao encontro dos participantes neste passeio que tem tanto de tradicional como de incomum. Ninguém se inscreve para este passeio a pensar nas paisagens, mas sim nas dificuldades do percurso. E todos desejam o pior: que os caminhos estejam lamacentos e difíceis de percorrer. O que faz com que o primeiro desafio seja o da organização, para encontrar o melhor roteiro, capaz de assegurar esta ‘animação’, independentemente das condições meteorológicas.
Encontrar lama foi tão difícil como descobrir uma agulha num palheiro…
Desta vez, o desafio foi ainda maior. Não tem chovido e encontrar caminhos com lama é quase tão difícil quanto descobrir uma agulha num palheiro. Mas não foram precisos nem 500 metros fora da estrada para que se gerasse o primeiro engarrafamento, provocado precisamente por uma passagem com lama. Eram apenas alguns metros lamacentos, mas os sulcos profundos que se criaram imediatamente neste ponto, que ainda ‘cheirava a asfalto’, foram suficientes para animar a meia centena de participantes, mal contados, que seguiam a bordo dos 21 Land Rover.
A manhã passou-se entre a Foz do Arelho e Salir do Porto, na extrema sul da admirável baia de São Martinho do Porto. Se fossemos a pé, teríamos chegado mais cedo ao local previsto para o piquenique do almoço. Mas uma vala aqui, outra acolá, encarregaram-se de tornar a média de andamento profundamente reduzida. Andou-se tão devagar que podíamos ter transformado este dia da lama numa acção de protesto contra a ‘radarização’ das nossas estradas e avenidas, onde agora a regra é andar devagar, devagarinho e parado.
A alegria do primeiro a assentar num lamaçal
Tó Vasconcelos e Fausto, o seu inseparável ‘navegador’, foram as primeiras ‘vítimas’ da lama da região Oeste, mas deixaram bem claro o quanto se divertiram quando o Discovery Td5 assentou na lama e ficou com as rodas a rodar sem se mexer. E depois, foi uma alegria partilhada com imensa gente, pois carro sim, quase carro não, lá ficava mais um Land Rover parado, à espera que alguém o socorresse e puxasse dali para fora, à força do cabo de aço dos guinchos eléctricos. Sim, porque desta vez não foi preciso safar ninguém à antiga, quando a força de braços era a mais empregue…
O sol já estava a pique quando a caravana atingiu o ponto ‘chave’ do percurso, próximo de São Martinho do Porto. Foi mesmo ao lado do estradão de terra que acede a um popular miradouro, onde há uma capelinha que dia e noite recebe a visita de muitos devotos; talvez sejam mais os atraídos pelo amor, que pela religião, mas neste caso não se tratava nem de uma coisa, nem da outra. Fomos até lá para explorar um baldio ‘infestado’ de lama e sulcos tão profundos que praticamente ninguém conseguiu passar sem ser rebocado.
Passear em todo terreno à média de 50 km/dia…
O divertimento da pista de lama só terminou com a ‘intervenção’ da organização, que tocou a recolher a caravana, para que o dia não terminasse sem se avançar mais no percurso. Claro que não foi preciso suplicar, porque num instante os Land Rover desapareceram e o caminho para a capelinha passou a ser dominado pelos devotos. E prosseguimos rumo a Alfeizerão, mas sem direito a paragem para provar o famoso e delicioso pão de ló, transitando à margem da A8 por caminhos que nem sempre pareciam existir: garantidamente ninguém lá passava há muito tempo e o mato e as canas já tinham conquistado terreno ao caminho.
Com o cair da noite, a caravana chegou a Caldas da Rainha. E chegou até cedo demais para o jantar final deste dia da lama. O que deu tempo a muitos para irem lavar os seus Land Rover, retirando o excesso de peso da lama que cobrir todas as carroçarias e chassis, à força da pressão das agulhetas de água. O centro de lavagem é que ficou num estado que deixava a dúvida se o piso era pavimentado, mas quando o Benfica entrou em campo para jogar contra o Sporting já toda a gente estava instalada à mesa. E ainda não se levantaram… Afinal, foi um dia cansativo, pois não é sempre que cumprimos uma média de…50 quilómetros ao dia!
Texto e fotografias (c) Revista Todo-Terreno